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As montanhas de gelo e outros mistérios de Plutão

17/02/2017 747 views 7 likes
ESA / Space in Member States / Portugal

E que tal ir até ao limite do nosso sistema solar, mais concretamente até Plutão? As descobertas mais recentes sobre este pequeníssimo planeta revelam uma série de fenómenos físicos na sua superfície que ainda não conseguimos explicar, entre montanhas vertiginosas feitas de gelo e glaciares compostos de nitrogénio sólido. Venha descobrir estas e outras particularidades do planeta anão.

Desde que foi descoberto em 1930 que Plutão é considerado um grande mistério. Foi planeta até 2006. A partir daí, os cientistas passaram a chamar-lhe "planeta anão". 

Elliot Sefton-Nash, da "Agência Espacial Europeia" (ESA), levou-nos até uma praia para nos explicar: "Se fizer um círculo na areia com 30 centímetros de diâmetro para representar o Sol, tenho de dar 35 passos para desenhar a Terra na mesma escala, com cerca de 3 milímetros. Plutão terá qualquer coisa como 0,3 milímetros e situa-se a 1 quilómetro ao fundo da praia. A sua maior lua chama-se Caronte, que tem cerca de metade do seu tamanho. Mas há outras quatro luas: Styx, Nix, Kerberos e Hydra. Ou seja, o sistema de Plutão tem muitos elementos, não é apenas um rochedo gelado". 

"São diferenças abissais para um corpo tão pequeno".  As "primeiras imagens claras" de Plutão surgiram em 2015 e foram captadas pela sonda "New Horizons", da NASA. Bernard Schmitt e Tanguy Bertrand, dois dos cientistas envolvidos na missão New Horizons, não esperavam ver algo de "tão divergente". Nada a ver com a Terra, nem com Marte, muito menos com os gigantes gasosos Júpiter e Saturno: Plutão é completamente diferente. 

"Quando a New Horizons chegou a Plutão, ficámos surpreendidos com a topografia. Porquê? Porque há montanhas que atingem os 4 quilómetros de altitude e, por outro lado, há uma bacia gigantesca que se situa a uma altura 3 quilómetros inferior à altitude média. São diferenças abissais para um corpo tão pequeno como Plutão", afirma Tanguy Bertrand, da Universidade Pierre e Marie Curie. 

As "informações enviadas pela New Horizons" vão chegando lentamente. Até agora, salienta-se um dado essencial: trata-se de um mundo feito de gelo. 

Fomos até a um lago gelado nos arredores de Grenoble, em França, para ilustrar aquilo que tem sido descoberto em Plutão. "Aqui a água gelada está próxima dos zero graus, como em todos os glaciares dos Alpes, aliás. Ou seja, não se encontra num estado muito sólido, ela flui e forma blocos. Já em Plutão, o gelo está a 230 graus negativos. É tão duro como a pedra. Isto é, em Plutão é o gelo que forma as montanhas", diz-nos Bernard Schmitt, do CNRS - Centro Nacional de Investigação Científica francês. 

Falamos de montanhas vertiginosas pontuadas por pedaços de metano gelado, com camadas de nitrogénio sólido à superfície. Os cientistas acreditam também que em Plutão há ciclos sazonais bem marcados. 

Segundo Tanguy Bertrand, "a zona do equador é um enigma. Não há gelo volátil, há apenas água gelada coberta de uma espécie de fuligem, de uma substância negra que resulta da fotólise do gelo através dos raios ultravioleta. Ou seja, há um grande contraste entre as zonas mais escuras junto ao equador e as zonas mais brilhantes no norte. E depois há um gigantesco glaciar de azoto do tamanho de França". 

Esse glaciar, batizado de Sputnik Planitia, terá surgido há menos de 1 milhão de anos, um fenómeno muito recente em termos planetários. Ainda ninguém avançou com uma explicação consensual para a sua existência. O que parece reunir entendimento é a ideia de que desvendar os mistérios de Plutão vai ajudar-nos a compreender todo o nosso sistema solar. 

"Se conseguíssemos enviar um robô para avaliar, ao longo de um período alargado, as estruturas existentes e a mineralogia, seria fantástico. Porque, até agora, só conseguimos vislumbrar a sua órbita. Ao longo de um ano, poderíamos observar a dinâmica das mudanças sazonais", considera Elliot Sefton-Nash. 

"Não imaginávamos encontrar um planeta tão dinâmico tão longe do Sol. Isto suscita muitas outras questões. Mas uma missão que levanta mais perguntas do que respostas é uma missão bem-sucedida", salienta Bernard Schmitt.