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O Ebola é altamente contagioso
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Solução do enigma do Ebola: satélites fornecerão pistas

22/12/2003 593 views 0 likes
ESA / Space in Member States / Portugal

Numa altura em que um novo surto de febre hemorrágica provocada pelo Ebola está a assolar o noroeste do Congo, a ESA está empenhada na recolha de dados de satélite para ajudar a resolver o enigma científico desta doença mortal.

Sempre que o Ebola assola a África Central, as mortes podem ser em números elevados. Mais de duas dezenas de pessoas morreram até agora durante a última epidemia, centrada na cidade de Mbomo na região de Cuvette West do Congo, perto da fronteira com o Gabão.

A doença provoca hemorragias internas incontroláveis em humanos, e também em primatas. O vírus Ebola tem, indubitavelmente, o seu habitat na selva profunda, mas o seu organismo hospedeiro natural ou ‘receptáculo’ permanece desconhecido.

Os países africanos afectados pelo vírus Ebola
Os países africanos afectados pelo vírus Ebola

“Os humanos ficam infectados apenas quando um indivíduo contacta com um animal já infectado,” disse Ghislain Moussavou do Centro Internacional de Pesquisa Médica (CIRMF) sediado no Gabão.

“No Gabão e no Congo não ocorreram quaisquer surtos em humanos entre 1998 e 2000, mas não podemos afirmar que não existiu qualquer surto em alguma fauna. É principalmente a população animal que é dizimada – em particular, os gorilas e os chimpanzés.”

A origem do surto actual no Congo foi traçada no final de Outubro, quando caçadores de Mbomo comeram um javali selvagem que eles encontraram morto na selva.

O facto importante de que os animais infectados ficam doentes e morrem mostra que eles não são o esquivo receptáculo do Ebola. O CIRMF – equipado com um Laboratório de Biosegurança de Nível 4 construído para o estudo de organismos patogénicos perigosos – está à caça de qualquer organismo que sirva, realmente, de hospedeiro a longo-prazo do vírus, testando o sangue dos animais capturados na selva.

Mas a enorme diversidade biológica e a inacessibilidade geográfica das florestas pluviais da África Central faz desta uma tarefa difícil.

Imagem de radar de parte da área estudada
Imagem de radar de parte da área estudada

No entanto, a partir do próximo ano a ESA fornecerá ao CIRMF dados da região provenientes dos satélites de Observação da Terra (OT), como um componente de um novo projecto denominado Epidemio.

Moussavou espera que estes dados - depois de importados para software de sistema de informação geográfica (SIG) - possam fornecer algumas pistas adicionais: “A caracterização dos parâmetros ecológicos de toda a área do estudo não pode ser efectuada apenas através de meios no terreno. Mas a detecção remota e o SIG podem fazer essa tarefa a baixo custo, e com a possibilidade de actualizações regulares.

“A equipa do CIRMF responsável pelo estudo do sangue das populações animais, está a concentrar os seus esforços na reserva dos gorilas de Lossi, no Congo, onde foi documentada uma alta mortalidade de gorilas durante epidemias anteriores. Mas Lossi está localizada na floresta profunda, a mais de 15 km do trilho para veículos mais próximo. A reserva tem uma área de 400 km2, e é praticamente impossível fazer uma amostragem total no tempo e no espaço.

“Assumindo que existem muitos locais da floresta profunda infectados pelo vírus, e tendo em mente o objectivo de diversificar as áreas de amostragem para melhorar os resultados do estudo serológico, são necessárias a descrição e a identificação preliminares destes locais. A detecção remota pode ajudar a identificar esses locais e a centralizar aí os esforços.”

Através do mapeamento das áreas onde os animais infectados são encontrados através de um SIG, as áreas com características ambientais semelhantes podem ser evidenciadas como locais suspeitos para constituir estudos prioritários. E, no futuro, o CIRMF planeia iniciar um estudo sobre a prevalência dos anticorpos do Ebola na população humana, ajudando a identificar as zonas de risco potenciais de infecção.

“Com um SIG podemos gerir, organizar e visualizar os dados a partir de uma variedade de diferentes origens,” acrescentou Moussavou. “Partindo deste princípio, a nossa abordagem inclui estudos espaciais e temporais das dinâmicas do estado da vegetação, das flutuações nos níveis dos cursos de água e das alterações climatéricas – podemos obter todas estas informações a partir dos satélites.”

Dados meteorológicos detalhados – actualmente quase inexistentes – poderão ser importantes porque a periodicidade dos surtos de Ebola apontam para um componente sazonal: “Isto sugere condições ecológicas particulares que poderão caracterizar o habitat hospedeiro do receptáculo,” concluiu Moussavou.

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