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Cometa em julho 14, 2014
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A dupla personalidade do cometa 67P/C-G

17/07/2014 647 views 3 likes
ESA / Space in Member States / Portugal

Imagens captadas esta semana do cometa 67P/Churymov-Gerasimenko revelam uma forma extraordinariamente irregular. As imagens da semana passada já mostravam alguns indícios de que o cometa seria irregular e agora tornou-se claro que este cometa não é comum. Tal como o seu nome, parece que o cometa 67P/CG tem duas partes. 

O que a nave está realmente a ver é a imagem pixelizada que se mostra à direita, que foi feita a 14 de Julho pela OSIRIS, a câmara de ângulo fechado da nave Rosetta, a uma distância de 12 mil quilómetros. 

A segunda imagem e o filme mostram o cometa depois de a imagem ter sido tratada. A técnica utilizada, chamada "sub-amostragem por interpolação", remove a pixelização e produz uma imagem mais uniforme. É importante notar que a superfície do cometa não deverá ser tão suave como o tratamento da imagem mostra. A textura da superfície ainda não está otimizada, pois a nave ainda está muito longe do cometa. Nesta fase inicial, as regiões aparentemente mais brilhantes ou mais escuras na imagem podem ser falsas interpretações do processo de tratamento de imagem. 

Mas o filme, que usa uma sequência de 36 imagens intervaladas, cada uma separada por 20 minutos, mostra já uma impressionante pré-visualização, de 360 graus, da forma complexa do cometa. Independentemente da textura da superfície, conseguimos ver brilhar um mundo com uma forma irregular. Na verdade, algumas pessoas já compararam o cometa a um pato, com corpo e cabeça. 

Embora menos óbvio na imagem 'real', no filme de imagens intervaladas nota-se a presença de dois componentes distintos. Um segmento parece ser bastante alongado, enquanto o outro aparece mais arredondado, em forma de bolbo.

Vista Rotativa do cometa em 14 de julho de 2014
Vista Rotativa do cometa em 14 de julho de 2014

Objetos duplos como este - conhecidos como “binários de contato” na terminologia cometa e asteróide - não são invulgares. 

De fato, pensa-se que o cometa 8P/Tuttle é um binário de contato. Imagens de rádio captadas pelo telescópio terrestre Arecibo em Porto Rico, em 2008, sugerem que esse cometa tem dois objetos tipo esfera. Por outro lado, o cometa 103P/Hartley 2 em forma de osso, fotografado durante o sobrevoo EPOXI da NASA, em 2011, revelou um cometa com duas metades distintas separadas por uma região lisa. Além disso, observações do asteróide 25143 Itokawa pela missão Hayabusa da JAXA, combinadas com dados terrestres, sugerem um asteróide que tem duas seções de densidades muito diferentes. 

Estará a Rosetta em rota para se encontrar com um cometa desta raça? As recompensas científicas do estudo de um cometa deste tipo seriam grandes já que existem muitas hipóteses a investigar sobre a forma como estes cometas se formam.

Cometa em 14 de Julho 2014 - vista processado
Cometa em 14 de Julho 2014 - vista processado

Uma teoria popular é que tais objetos podem ter surgido quando dois cometas - mesmo dois cometas de composição distintas - se fundiram numa colisão a baixa velocidade durante a formação do Sistema Solar, há milhões de anos, quando pequenos blocos de detritos rochosos e gelados se uniram para, mais tarde, criar planetas. Talvez o cometa 67P/CG ofereça um registo único dos processos físicos de acreção. 

Ou talvez seja o contrário - ou seja, um único cometa poderia ser transformado numa forma curiosa pela forte atração gravitacional de um objeto grande como Júpiter ou o Sol. Afinal, os cometas são pilhas de escombros com fraca força interna, como foi testemunhado diretamente na fragmentação do cometa Shoemaker-Levy 9 e impactos seguintes com Júpiter, há 20 anos. Talvez as duas partes do cometa 67P/CG se vão separar completamente um dia. 

Por outro lado, talvez o cometa 67P/CG tenha sido um objeto redondo que se tornou muito assimétrico devido à evaporação do gelo. Isso poderia ter acontecido quando o cometa entrou pela primeira vez no Sistema Solar a partir do Cinturão de Kuiper, ou em órbitas posteriores em redor do Sol. 

Pode-se também especular que a dicotomia marcante da morfologia do cometa é o resultado de um evento próximo de impacto catastrófico que arrancou um lado do cometa. Da mesma forma, pode-se também pensar que uma grande explosão pode ter enfraquecido tanto um lado do cometa, que este simplesmente se desintegrou no espaço. 

Mas, a pesar de as imagens intervaladas serem muito boas, precisamos de estar ainda mais perto para ter uma melhor visão tridimensional – já para não mencionar a realização de uma análise espectroscópica para determinar a composição do cometa - a fim de tirar conclusões científicas sólidas sobre este cometa emocionante. 

Comentários de Fred Jansen, gestor da missão Rosetta: “Agora estamos a ver imagens que sugerem um cometa com uma forma bastante complexa, mas ainda há muita coisa que precisamos aprender antes de tirar conclusões. Não só em termos de o que isto significa para a ciência dos cometas em geral, mas também em relação ao nosso planeamento das observações científicas e aos aspetos operacionais da missão, como a órbita e pouso. 

“Vamos ter de realizar análises detalhadas e modelar a forma do cometa para determinar a melhor forma de voar em torno de um tal corpo, tendo em conta o controle de voo e a astrodinâmica, os requisitos científicos da missão e questões relativas à aterragem, como a análise do local de pouso e a visibilidade do lander para a nave. Mas, com menos de 10 mil quilómetros para navegar antes do encontro a 6 de agosto, as perguntas em aberto serão respondidas em breve.”

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