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Brecha em crescimento
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A perda leva à instabilidade?

03/08/2017 437 views 1 likes
ESA / Space in Member States / Portugal

Graças à era dos satélites, recentemente testemunhámos o nascimento de um dos maiores icebergues documentado. Enquanto a dissolução da plataforma de gelo Larsen C da Antártida atingiu as primeiras páginas de jornais em todo o mundo, esse evento dramático também apresenta aos cientistas uma oportunidade única de aprender mais sobre a estabilidade do gelo.

No dia 12 de julho, a missão europeia Copernicus Sentinel-1 devolveu imagens de radar que mostravam que um pedaço de gelo, com mais do dobro do tamanho do Luxemburgo, se havia separado da Península Antártica.

Desde então, este grande icebergue tabular - conhecido como A68 - percorreu cerca de 5 km desde a plataforma de gelo. As imagens do Sentinel-1 também mostram que já se formou um aglomerado composto por mais de 11 icebergues menores, o maior dos quais tem mais de 13 km de comprimento.

Esses “pedaços de icebergue” separaram-se do icebergue gigante e da restante plataforma de gelo.

Anna Hogg, da Universidade de Leeds, Reino Unido, comentou: “A nossa capacidade de acompanhar, de forma rotineira, acontecimentos como este, que se desenvolvem rapidamente, foi revolucionada, nos últimos anos, pelo investimento europeu nos satélites Copernicus.”

A fenda em Larsen C vista do ar
A fenda em Larsen C vista do ar

Uma vez que a Antártida está nos meses de inverno sombrios, as imagens de radar são indispensáveis porque, além da região ser remota, o radar continua a enviar imagens, independentemente das más condições climatéricas e da escuridão.

“A capacidade do Sentinel-1 de gerar imagens durante todo o ano, combinada com as suas revisões frequentes, tem sido um recurso inestimável”, disse a Dr. Hogg.

Embora agora seja certamente interessante postular sobre o caminho futuro e o eventual desaparecimento do A68, é indiscutivelmente mais importante entender como a plataforma de gelo responderá ao ser 10% menor.

Publicado esta semana na Nature Climate Change, o Dr. Hilmar Gudmundsson da Pesquisa Antártica Britânica e a Dr. Hogg examinam o processo que levou à separação [do icebergue] e discutem os eventos que afetam a estabilidade das placas de gelo da Antártida.       

“As imagens de satélite revelam muita ação contínua na plataforma de gelo Larsen C. Podemos ver que as restantes fendas continuam a crescer em direção a uma parte denominada ‘Bawden Ice Rise’, que fornece um suporte estrutural importante para a restante plataforma de gelo”, prosseguiu a Dr. Hogg.

Estabilidade da plataforma de gelo
Estabilidade da plataforma de gelo

“Se uma placa de gelo perder o contato com o aumento do gelo, seja através de um desgaste contínuo ou de um grande evento de separação de um icebergue, poderá provocar uma aceleração significativa na velocidade do gelo e, possivelmente, desestabilização adicional. Parece que a história de Larsen C ainda não acabou.”

O Dr. Gudmundsson explicou: “Embora as placas de gelo flutuantes tenham apenas um impacto modesto sobre o aumento do nível do mar, o gelo do interior da Antártida pode libertar-se para o oceano, quando este se desmorona.

Consequentemente, veremos um aumento na contribuição da camada de gelo para o aumento global do nível do mar.

“Com este grande evento de separação e a disponibilidade de tecnologia de satélite, temos uma oportunidade fantástica de observar esta experiência natural diante dos nossos olhos.

“Esperamos aprender muito sobre como se rompem as placas de gelo e como a perda de uma seção de uma plataforma de gelo afeta o fluxo das restantes partes.”

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A história do A68
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O recuo da plataforma de gelo na península antártica tem vindo a ser observado durante toda a era dos satélites - cerca de 50 anos. As grandes seções das plataformas de gelo Larsen A e B e a plataforma de gelo Wilkins entraram em colapso, em questão de dias, em 1995, 2002 e 2008, respetivamente.

Com o atual sistema de monitorização Copernicus, estamos agora muito melhor posicionados, não só para observar eventos em lugares remotos como a Antártida, mas também, principalmente, transformar a compreensão teórica de processos complexos em ciência ‘dura’.

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