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A cidade de Labutta, em Myanmar, depois do ciclone Nargis ter destruído o delta do Irrawaddy
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Combate à destruição provocada pelo ciclone recebe ajuda do espaço

07/07/2008 758 views 0 likes
ESA / Space in Member States / Portugal

Satélites de observação da Terra forneceram informações vitais aos trabalhadores humanitários em Myanmar, durante a longa fase de rescaldo do devastador ciclone Nargis, que atingiu o País a dois e três de maio de 2008.

Logo após a catástrofe, o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA) pediu à Carta Internacional "Espaço e grandes catástrofes", conhecida como "a Carta", apoio, nomeadamente, o mapeamento imediato das áreas afectadas.

Áreas inundadas no delta do Irrawaddy
Áreas inundadas no delta do Irrawaddy

Na sequência do pedido, rapidamente foi produzida cartografia da Terra, obtida por satélite, a seguir ao desastre. O objectivo era fazer uma estimativa do impacto súbito da inundação bem como colher outro tipo de informação sobre os danos, para ajudar a planear as operações de resposta à emergência.

Os mapas de danos puderam ser construídos com celeridade graças ao projecto RESPOND - mapeamento por satélite com vista à mitigação de desastres e à ajuda humanitária - que tinha enviado mapas topográficos de Myanmar, construídos a partir de observações por satélite da Terra, feitas um mês antes da catástrofe.

Esta actividade estava inserida num projecto de auxílio às comunidades locais na redução da exposição ao risco de desastres. E permitiu à equipa do RESPOND comparar mapas actualizados antes do desastre com imagens obtidas por satélite durante ou depois do ciclone.

Graças à Carta mais de 10 sensores diferentes – de radar e ópticos – de diversas missões de observação da Terra forneceram mais de 60 imagens de satélite, usadas na construção de 29 mapas de danos.

Mapa para a avaliação preliminar de danos em Labutta, Myanmar
Mapa para a avaliação preliminar de danos em Labutta, Myanmar

Estes mapas foram fornecidos à comunidade das Nações Unidas, em Myanmar e Banguecoque, na fase de resposta à emergência. Período que durou mais de 40 dias, devido à escala da devastação causada pelo Nargis e às dificuldades enfrentadas pela comunidade internacional em chegar ao País.

Para disponibilizar informação gráfica e temporal aos trabalhadores humanitários, as agências espaciais e os fornecedores de mapas trabalharam noite e dia. O parceiro do RESPOND, o UNOSAT – o fornecedor de mapas a partir de imagens de satélite da Terra para a comunidade de ajuda humanitária das Nações Unidas – recebeu a colaboração do SERTIT, de França, e do Centro Alemão de informação de crise por satélite (ZKI) do Centro Espacial Alemão (DLR), sob a coordenação do Infoterra do Reino Unido.

Visão geral dos danos nos edifícios em 18 povoações de Myanmar
Visão geral dos danos nos edifícios em 18 povoações de Myanmar

"É importante diferenciar os mapas de acordo com as necessidades e, num caso como este, em primeiro lugar obter uma visão geral e então passar para avaliações mais detalhadas à medida que a operação de socorro avança", explicou o Dr. Einar Bjorgo, responsável pelo UNOSAT, que foi designado como gestor do projecto para esta missão, um papel rotativo atribuído pelos membros da Carta.

Após a fase aguda da catástrofe, a gama de produtos de mapeamento foi alargada, de forma a incluir detalhes sobre o estado das estradas, pontes e edifícios. Por exemplo, o UNOSAT juntou-se ao GISCorps, uma associação sem fins lucrativos sediada nos Estados Unidos, para digitalizar todos os edifícios pré-catástrofe a partir dos dados disponíveis. Estes mapas eram altamente precisos, com uma resolução de um metro.

Para além dos membros da Carta, outros dados de observação da Terra foram disponibilizados por agências espaciais, tais como a Agência Espacial Italiana (ASI, na sigla em inglês) e a Agência Espacial Alemã (DLR), e fornecedores de imagens como o canadiano MDA e o American Digital Globe.

Mapa da inundação, após a passagem do cyclone Nargis
Mapa da inundação, após a passagem do cyclone Nargis

Até à data, os mapas têm sido utilizados por mais de 40 organizações, incluindo organizações não governamentais sediadas em Myanmar, tais como a Cruz Vermelha, e organizações governamentais como a Agência Federal Alemã de Técnicos de Socorro (THW) e o Departamento de Silvicultura de Myanmar.

A Cruz Vermelha imprimiu vários conjuntos de mapas e enviou-os com a sua equipe para Myanmar, na esperança de ter um melhor acesso ao território.

"Fazemos o download dos vossos mapas e utilizamo-los nos trabalhos de salvamento", contou o funcionário nacional de salvamento, Prof. Charlie Than.

Thant Lwin Htoo, da equipa de resposta à emergência de Myanmar, disse que tinha feito o download da vila de Hpontawbye para as actividades de ajuda à emergência.

Vista geral dos mapas de danos produzidos a partir dos dados da Carta
Vista geral dos mapas de danos produzidos a partir dos dados da Carta

Os mapas têm sido usados para planear as avaliações de campo, fornecer vistas sinópticas para a mobilização dos recursos e de tomada de decisão, e está actualmente a ser explorada a possibilidade de se juntar informação relativa aos riscos a ser utilizada na reconstrução.

"É importante que tenham sido produzidos continuamente os mapas de danos para os trabalhadores humanitários já que chuvas muito intensas se seguiram ao Nargis,", disse o director do SERTIT, Paul de Fraipont. "Com base em comentários de especialistas na área, isso tornou os produtos ainda mais úteis."

Mapa do RESPOND para a mitigação de risco
Mapa do RESPOND para a mitigação de risco

Foi dada especial atenção à divulgação coordenada dos produtos de forma a garantir o acesso rápido a estes mapas; todos os mapas feitos a partir de dados da Carta foram disponibilizados nos sites do RESPOND e do UNOSAT à medida que foram sendo produzidos.

Além disso, os mapas foram disponibilizados através do OCHA's Reliefweb, das Nações Unidas e Alertnet da Reuters com os feeds RSS constantemente acessíveis a mais de 400 organizações não-governamentais.

A Carta Internacional sobre "Espaço e grandes catástrofes", uma iniciativa da ESA e da Agência Espacial Francesa (CNES), tem actualmente 10 membros, incluindo a Agência Espacial Canadiana (CSA), a Organização de Investigação Espacial da Índia (ISRO), a agência americana do Oceano e da Atmosfera (NOAA), a Agência Espacial Argentina (CONAE), a Agência Japonesa de Exploração do Espaço (JAXA), o Centro Espacial Britânico /Constelação de Acompanhamento de Desastres (BNSC / DMC), os Estudos Geológicos americanos (USGS) e a Agência Espacial Chinesa (CNSA).

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