Gelos do Ártico a caminho de um novo mínimo
Tudo indica que a os gelos polares poderão voltar a «encolher» tanto como no Verão passado, altura em que se atingiram os mínimos históricos para o Ártico. Observações actuais do satélite da ESA, Envisat, sugerem valores muito próximos aos de 2007.
Pelas observações de meados de Agosto, calcula-se que um novo recorde pode ser atingido dentro de semanas. A animação acima é uma série de mosaicos do oceano Ártico criada a partir de imagens recolhidas entre Junho e meados de Agosto 2008 através do instrumento Advanced Synthetic Aperture Radar (ASAR), a bordo do Envisat. As zonas a cinzento representam regiões sem gelo, enquanto o azul diz respeito a áreas cobertas por gelo marítimo.
A actual cobertura de gelo no Ártico já atingiu o segundo mínimo absoluto desde que as observações do espaço começaram, há 30 anos. Sabendo que a extensão dos gelos normalmente atinge os seus mínimos em meados de Setembro teme-se que o valor deste ano venha a ser um novo recorde.
Todos os anos, formam-se e derretem-se vastas massas de gelo na superfície do oceano Ártico. Uma área do tamanho da Europa derrete-se a cada Verão, atingindo um mínimo em Setembro. Graças à vigilância feita por satélite desde 1978, tem-se verificado uma diminuição regular na área coberta pelos gelos no Verão. Nunca a rota directa, pela Passagem Noroeste, tinha estado tão descoberta como em Setembro passado. Na imagem, marcada com a linha cor de laranja, nota-se que esta passagem está praticamente livre de gelos, enquanto a passagem indirecta, chamada Passagem Noroeste de Amundsen, está aberta há quase um mês.
O investigador alemão do Instituto Alfred Wegener, em Bremerhaven, comentou: «O nosso navio de investigação dos gelos Polarstream está presentemente numa missão científica no Oceano Ártico. Com partida da Islândia, a rota do navio inclui a Passagem Noroeste e a Bacia do Canadá, onde serão desenvolvidos estudos geológicos e geofísicos até à Bacia Makarov para estudar história tectónica e a geologia submarina do Oceano Ártico central. Além disso, serão feitos estudos oceanográficos e biológicos. O Polarstream irá circum-navegar todo o Oceano, saindo pela Passagem de Noroeste.»
Miller acrescenta ainda: «As regiões polares, especialmente o Ártico, são indicadores muito sensíveis das alterações climáticas. O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, da ONU, mostrou que estas regiões são altamente vulneráveis ao aumento da temperatura e previu que o Ártico estaria praticamente sem gelo nos meses de verão em 2070. Outros cientistas sugerem que tal aconteceria já em 2040. Observações de satélite mais recentes indicam que o gelo pode desaparecer ainda mais cedo.»
O Ártico é uma das regiões mais inacessíveis da Terra, pelo que obter medidas do gelo marítimo era difícil antes do aparecimento dos satélites. Há mais de vinte anos que a ESA fornece dados de satélite para o estudo da criosfera, revolucionando a compreensão das regiões polares.
Os instrumentos a bordo dos satélites podem fazer aquisição de imagens através das nuvens e também durante a noite, o que se torna especialmente importante em áreas com longos períodos de maus tempo e escuridão – condição típicas dos pólos.
Disponibilizando uma série de informação de Observação da Terra, a ESA está a contribuir para um dos mais ambiciosos programas científicos em torno do Ártico e o Antártico – o Ano Polar Internacional 2007-2008.
A continuação do estudo de dados colhidos desde 1991 faz parte da Iniciativa da ESA para as Alterações Climáticas que será proposta aos Estados Membros na Conferência Ministerial, em Novembro de 2008. A proposta visa assegurar a disponibilização de informação em variáveis climáticas recolhidas por satélite.
Em 2009, a ESA fará outra contribuição na pesquisa da criosfera com o lançamento do Cryo-Sat-2. As observações feitas durante os três anos de duração da missão fornecerão evidências conclusivas do ritmo a que a espessura e a cobertura dos gelos está a diminuir.