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Portuguese trainees: Portugal a treinar para o espaço na Agência Espacial Europeia

17/01/2005 2240 views 2 likes
ESA / Space in Member States / Portugal

O programa Portuguese Trainees continua a permitir a jovens licenciados portugueses o acesso a formação na Agência Espacial Europeia. Após 8 anos de existência, chegou altura de fazer um primeiro balanço e identificar os desafios que se colocam para o futuro.

A participação de Portugal em actividades ligadas ao sector espacial é relativamente recente. O primeiro passo foi dado em 1986, ano em que se tornou membro da EUMETSAT. Oito anos depois, em 1994, Portugal tornou-se membro permanente do Comité das Nações Unidas para as Aplicações Pacíficas do Espaço exterior (COPUOS), e em 1997 assinou um acordo com a Agência Espacial Europeia (ESA) onde se comprometeu a participar nas áreas de Telecomunicações e Navegação.

No seguimento deste esforço, em Dezembro de 1999 foi assinado o Acordo entre a Agência Espacial Europeia e o Governo da República Portuguesa relativo à adesão de Portugal à Convenção da Agência Espacial Europeia e respectivos termos e condições, que possibilitou, em Novembro de 2000, a adesão plena de Portugal à ESA. No mesmo ano (1999), foi publicado o Livro Branco para a Ciência e Tecnologia do Espaço, onde são identificadas as áreas estratégicas onde Portugal deve apostar.

No acordo de 1999 foi estipulado um período de transição de sete anos (2001-2007) durante o qual uma parte da contribuição portuguesa para as actividades mandatórias da ESA (3 M€) seria utilizado no financiamento de actividades que promovessem a adaptação da indústria portuguesa aos requisitos da Agência e ao ambiente de concorrência aberta que hoje vigora nas relações entre a ESA e a indústria. Foi também decidida a criação, durante este período, de uma Task Force ESA/Portugal, constituída por elementos de ambas as entidades, e que serviria para aconselhar sobre a implementação das medidas de transição.

Neste momento, a indústria portuguesa possui aproximadamente dezassete contratos com a ESA. Além disso, encontram-se já cerca de oito novos contratos em preparação, e até ao final de Fevereiro deverão ser distribuídos os últimos fundos geridos através da Task Force. Como resultado deste esforço, Portugal participa hoje no programa obrigatório da ESA e ainda em programas opcionais de valor estratégico, nas áreas de Telecomunicações, Navegação, Exploração do Sistema Solar (Aurora) e futuros lançadores (FLPP).

Para dar impulso a esta estratégia, foi criado o GPE, Gabinete Português para o Espaço. Criado em 2003 no âmbito do GRICES, o GPE é um orgão funcional, de carácter operacional, que coordena a participação de Portugal, como Estado Membro, nos diferentes organismos internacionais ligados ao espaço.

O Programa Portuguese Trainees

Distribuição dos trainnes por áreas (2004)
Distribuição dos trainnes por áreas (2004)

O investimento de Portugal nas actividades espaciais tem sido não só uma aposta na internacionalização das suas actividades no sector tecnológico, mas também uma aposta no seu potencial humano. Prova disso foi a criação, em 1997, do programa de estágios Portuguese Trainees Program, no âmbito do Programa Dinamizador das Ciências e Tecnologias do Espaço, gerido pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) em colaboração com o Gabinete de Relaçoes Internacionais para a Ciência e do Ensino Superior (GRICES) e a Agência de Inovação (AdI). Complementar ao já existente programa Young Graduate Trainees (gerido pela própria ESA) e ao programa Contacto (do ICEP), este programa possibilita a jovens licenciados portugueses trabalhar num dos vários estabelecimentos da ESA por um período de um ou dois anos. O objectivo era (e é) a especialização e formação profissional de Portugueses em áreas estratégicas do sector aeroespacial e a posterior integração destes jovens profissionais no tecido empresarial português, contribuindo para o aumento da competitividade das empresas portuguesas face à concorrência Europeia.

A Situação Actual do Programa Portuguese Trainees

Até hoje, o programa Portuguese Trainees possibilitou a cerca de 45 jovens desenvolver trabalho nos quatro principais estabelecimentos da ESA: HQ em Paris (França), ESOC em Darmstad (Alemanha), ESRIN em Frascati (Itália), ESTEC em Noordwijk (Holanda) e EAC em Colónia (Alemanha). As actividades desenvolvidas por estes trainees permitiu-lhes adquirir competências que, caso sejam reintegrados no tecido empresarial português, são uma mais-valia em diversas áreas, inclusivé naquelas não directamente relacionadas com o espaço.

Presentemente, aproximadamente 30 trainees terminaram os seus estágios na ESA. Destes, 18 regressaram a Portugal, dos quais cerca de 11 exercem uma actividade profissional que lhes pode permitir aplicar os conhecimentos adquiridos durante o estágio.

Evolução trimestral do retorno industrial
Evolução trimestral do retorno industrial
Neste momento, os trainees portugueses estão envolvidos em diversas áreas, e contribuem (ou contribuíram) de alguma forma para a grande maioria das missões da ESA, entre as quais se contam SMART-1, EGNOS, GALILEO e Huygens.

Em paralelo ao seu trabalho para a ESA, eles têm demonstrado iniciativa e empreendedorismo. Exemplos disso mesmo são a criação de uma Comissão de Representantes em 2003, e a criação de novas empresas de âmbito tecnológico.

Com a Comissão de Representantes, os trainees passaram a ter um ponto de contacto com a ESA e com as instituições e empresas portuguesas com as quais existe algum tipo de relação. Além disso, a Comissão tem-se mostrado activa na divulgação do trabalho desenvolvido pelos trainees, não só através de encontros (que incluem reuniões com representantes do Ministério da Ciência, Inovação e Ensino Superior, TaskForce, GRICES/GPE e ADI), como também através de iniciativas de divulgação e networking (Industry Space Days, Dia do Espaço, Semana do Aeroespacial do IST, reuniões com empresas portuguesas - como a Critical Software e a Skysoft - e com empresas estrangeiras). A par destas iniciativas, foi ainda criado um website (www.portuguesetrainees.esa.int) onde é disponibilizada toda a informação de algum modo relacionada com os trainees e o trabalho desenvolvido por eles durante o seu estágio na ESA.

O espírito de empreendedorismo que caracteriza os jovens licenciados que fizeram o seu estágio na ESA deu já origem a criação de três empresas, a Active Space Technologies, a Omnidea e a Oristeba (na área das tecnologias espaciais), e a uma iniciativa que se encontra em desenvolvimento (na área dos UAVs para aplicações em detecção remota).

O Futuro

Este é um momento crítico na história de Portugal como participante em actividades espaciais. O periodo de transição estipulado no acordo de 1999, após o qual as empresas portuguesas competirão em regime de igualdade com as suas congéneres europeias, termina em 2007. Além disto, assistimos hoje a profundas transformações no contexto económico europeu, onde se inclui, por exemplo, o alargamento da União Europeia e da ESA aos países de Leste. Tendo em conta estes e outros factores, foi publicado, em Fevereiro de 2004, a Estratégia Nacional de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para o Espaço, 2003 – 2008, onde se estabelecem claramente as metas e prioridades que devem ser tomadas para que Portugal possa retirar o maior proveito possível da sua participação neste sector de alta qualidade e intensa competição. Neste documento apresenta-se como meta a médio-prazo que "o investimento público no Espaço se traduza em retornos industriais, científicos e operacionais significativos", ou seja, retornos superiores a 90%.

Sendo assim, para Portugal, como para os trainees portugueses, o momento actual representa a ultima oportunidade para dar seguimento a uma aposta que se tem feito ao longo dos anos, e à qual os próprios trainees têm dado continuidade através de iniciativas, tanto a nível pessoal como a nível colectivo.

Para mais informações contactar:

Simonetta Cheli
Tel: 0039 06 941 80350
Email: Simonetta.Cheli@esa.int

Nota dos editores:

Os dados apresentados neste artigo foram retirados de:

- Portuguese Trainees, Joana Trindade, 24 Abril 2004
- Estratégia Nacional de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para o Espaço, 2003 – 2008, Versao 2.1, 9 de Fevereiro de 2004
- Livro Branco para o Espaço, Grupo de Trabalho para as Actividades de Ciência e Tecnologia Espacial, 1999
- Acordo de adesão de Portugal à Convenção da ESA
- European Strategy for Space, ESA - European Union, 2000

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