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Life-supporting pilot plant
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Programa de apoio à vida MELISSA da ESA ganha reconhecimento académico

27/07/2017 568 views 2 likes
ESA / Space in Member States / Portugal

O diretor do esforço europeu para criar um sistema de apoio à vida em ciclo fechado, para missões espaciais de longa duração, recebeu um prestigiado doutoramento honorário – entre um período atarefado nos 27 anos de história do programa.

Nos dias de hoje, as tripulações da Estação Espacial Internacional (ISS) necessitam ser reabastecidas a partir da Terra, mas essas linhas de aprovisionamento tornar-se-ão impraticáveis, à medida que os exploradores se aventurarem para o espaço.

Em vez disso, o programa alternativo do sistema de suporte à vida micro-ecológica (MELiSSA - Micro-Ecological Life Support System Alternative), dirigido pela ESA, busca aperfeiçoar um sistema de suporte de vida autossustentável, que possa ser movido no espaço, no futuro, fornecendo aos astronautas todo o oxigénio, água e alimento que necessitem.

O trabalho do programa MELiSSA de 11 países foi reconhecido na primavera, no qual o seu líder - Christophe Lasseur, da Secção de Instrução de Vida e Ciências Físicas da ESA - recebeu um diploma honorário de ‘Doctor Honoris Causa’, por mérito científico, da Faculdade de Ciências da Universidade de Antuérpia.

Christophe Lasseur
Christophe Lasseur

“A concessão desses graus honorários pelas faculdades da Universidade é um evento anual, reconhecendo a qualidade do trabalho científico”, explica Christophe.

“Eu próprio não tenho uma carreira académica padrão: tenho um curso de engenharia e um doutoramento, mas penso em mim como uma mistura de engenheiro e cientista - e o MELiSSA, como programa, tem um carácter semelhante.”

O prémio foi precedido por um simpósio, de duração de um dia, focado no MELiSSA e no espaço, reunindo especialistas de toda a Europa - incluindo um contributo do astronauta da ESA, Frank De Winne, atualmente responsável pelo Centro Europeu de Astronautas.

“O programa MELiSSA é às vezes comparado com a aplicação Biosfera-2, no início dos anos 90, mas a nossa abordagem é muito diferente”, explica Christophe. “Aí, fecharam-se para ver como uma biosfera separada se estabilizaria. Em vez disso, seguimos uma abordagem determinista, para caracterizar todos os processos com o máximo de detalhe possível, como o primeiro passo para recriá-lo, com base nos conhecimentos que adquirimos.”

O MELiSSA é um esforço multifacetado, com projetos que se realizam em todas as universidades e indústrias europeias (e canadianas). Mas o programa deu um importante passo em frente, em 2001, com a primeira experiência de voo em 2009, com a inauguração da “Planta Piloto MELiSSA”, na Universidade Autónoma de Barcelona.

“A Planta Piloto hospeda um ciclo de vários compartimentos que é extremamente hermético, como a ISS, acrescenta Christophe. “No ano passado, executámos uma experiência num foto-biorreator com uma cultura de algas que conseguiu manter as “tripulações” de três ratos, vivos e confortáveis, por quase seis meses de cada vez. As algas produzem o oxigénio e prendem o CO2, os ratos fazem exatamente o contrário.

Planta Piloto de vários compartimentos
Planta Piloto de vários compartimentos

“Mas nós não fazemos, de todo, pesquisa animal - tudo o que pedimos aos nossos ratos para fazer é respirar, eles passam um período muito confortável antes de serem devolvidos aos serviços veterinários da universidade. As nossas algas recebem luz, calor e nutrientes para capturar a quantidade necessária de dióxido de carbono, de acordo com nosso modelo matemático, e produzem o oxigénio em consonância com o consumo dos ratos.

“Para validar a robustez do nosso modelo de controlo preditivo, testamo-lo com vários pontos estabelecidos, alternando entre diferentes “estados estáveis” ao longo do tempo.

“Estão a ser integrados, progressivamente, novos compartimentos na Planta Piloto, pois são desenvolvidos pelos parceiros do MELiSSA, para caracterização e testes sistemáticos, de longo prazo.”

Obtenção do Grau
Obtenção do Grau

O MELiSSA está a tentar recriar uma versão simplificada dos ecossistemas terrestres aquáticos - mas isso contribui para um formidável desafio de engenharia, exigindo o modelo detalhado e o controlo de processos-chave e a prevenção de qualquer contaminação ou degradação.

Em setembro, a próxima experiência do MELiSSA será enviada para a ISS: ArtemISS - abreviação de ‘Expressão do gene Arthrospira e modelagem matemática em culturas cultivadas na Estação Espacial Internacional’ - contém um foto-biorreator para ver como a taxa de crescimento das algas é afetada pela microgravidade e a radiação espacial. Os ratos suportados pelo bioreactor seguirão a ArtemISS mais tarde nesta década.

Aperfeiçoar um sistema de apoio à vida “regenerativo”, para o qual os seres humanos possam confiar de forma segura, tem um prognóstico de levar ainda muitos mais anos: o MELiSSA é considerada pelos membros como um projeto de 50 anos, resultando até agora em centenas de trabalhos académicos, patentes e novas empresas, em áreas que vão desde a preparação de alimentos, até à purificação de água e à segurança microbiana.

Logotipo do MELiSSA
Logotipo do MELiSSA

Christophe coloca a sobrevivência do MELiSSA na sua diversidade – tal como os ecossistemas que modela, desenvolveu resistência: “A ESA coordena o programa, mas recebe contribuições da comunidade MELiSSA e várias organizações diferentes.

“Estamos a avançar nos campos de processamento de água, gestão ambiental, economia circular e agricultura urbana, bem como na exploração espacial; há muita motivação na Europa, e isso mantém-nos de pé.”

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