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Ir a Marte e voltar: tão real quanto possível

23/03/2010 367 views 0 likes
ESA / Space in Member States / Portugal

Uma tripulação de seis pessoas, incluindo dois cidadãos europeus, começará em breve uma missão simulada a Marte, em instalações que incluem uma nave interplanetária, um módulo marciano e até a paisagem de Marte. A experiência Mars500, que simula uma verdadeira viagem a Marte, é o derradeiro teste de resistência humana.

O objectivo da experiência é simular uma missão completa de ida e volta a Marte, com o maior rigor possível. A Mars500 será a primeira experiência do género, sendo conduzida a partir de instalações especiais em Moscovo, no próximo verão. Serão 250 dias para a viagem a Marte, 30 dias na superfície e 240 dias para a viagem de regresso, num total de 520 dias.

Isolamento foi coisa que não houve na segunda-feira, 22 de Março, quando os quatro candidatos europeus à Mars500 foram apresentados à imprensa, no Centro de Tecnologia da ESA, ESTEC, em Noordwijk, na Holanda.

O belga Jerome Clevers, os franceses Arc'hanmael Gaillard e Romain Charles e o italo-colombiano Diego Urbina interromperam o treino, que começou a 24 de Fevereiro na Rússia, para estar com a imprensa. Dois dos quatro candidatos irão participar na missão, juntamente com três russos e um participante chinês.

Simonetta Di Pippo e Martin Zell na conferência de imprensa
Simonetta Di Pippo e Martin Zell na conferência de imprensa

«Marte é o objectivo final do programa de exploração humana global», disse Simonetta Di Pippo, directora dos voos tripulados da ESA. «Além de desenvolver as infra-estruturas necessárias às missões de exploração, o Departamento de Voos Tripulados da ESA também mantém um programa baseado em terra, com análogos espaciais e ainda investigação na ISS, certificando-se desta forma de que os nossos astronautas estão tão preparados quanto possível, a nível físico e mental, para missões de exploração de longa duração, desenvolvendo formas de combater os efeitos negativos de uma missão deste género. O estudo de isolamento proporcionado pela Mars500 é um marco importante neste processo. A cooperação entre a ESA e a Rússia, nessa experiência também é uma mais valia.»

Candidatos:

Romain Charles (nascido em 1979), francês, é Responsável pela Qualidade na Sotira, que produz painéis compósitos. Nascido em 1979, Charles vive em Saint Malo, França, e, tal como os seus colegas, está altamente motivado. «Se eu puder contribuir para a chegada a Marte, estou disposto a sacrificar esta fase da minha vida para isso.»

Jerome Clevers , da Bélgica, é um engenheiro de suporte técnico na Turbomeca Safran Group, sendo responsável pelo apoio técnico global dos motores de helicópteros. Nascido em 1981, Clevers vive em Bayonne, França. « O mais difícil no isolamento sera certamente a separação da minha namorada e família e o facto de que não se pode abrir a janela, sentir a brisa e ver o Sol.»

Arc'hanmael Gaillard , de França, fez parte da tripulação de backup no período de isolamente de 105 dias, antes do estudo Mars500. É engenheiro de desenvolvimento na Thomson R&D France, trabalhando com investigação e desenvolvimento de tecnologias para ecrãs planos. Nascido em 1976, Gaillard vive em Rennes, França. «Isto é uma verdadeira experiência, muito semelhante a um voo espacial e estou feliz por participar.»

Diego Urbina,nascido em Maio de 1983, tem nacionalidade Italo-Colombiana e uma vasta experiência em actividades relacionadas com o espaço, desde a participação na Mars Desert Research Station, no Utah, USA, em Janeiro de 2010, até à organização de actividade educativas nos países em desenvolvimento. Foi ainda um interno no programa de treino de astronautas na Neutral Buoyancy Facility, do Centro Europeu de Astronautas da ESA, em Colónia, na Alemanha. «Este estudo não é apenas útil para Marte, mas também para a vida na Terra.»

Uma experiência bem preparada

Instalações da Mars500 em Moscovo
Instalações da Mars500 em Moscovo

O teste de 520 dias de isolamento é a última e a fase central da experiência Mars500, que começou em 2007. A primeira fase, em Novembro daquele ano foi uma simulação de 14 dias que serviu para testar, essencialmente, as instalações e os procedimentos operacionais. A segunda fase aconteceu em 2009, quando uma tripulação de quatro russos e dois europeus ficaram fechados nas instalações durante 105 dias, a 31 de Março.

A Mars500 está a ser liderada pelo Instituto Russo para os Problemas Biomédicos (IBMP), com larga participação da ESA, no âmbito do Programa Europeu para a Vida e Ciências Físicas (ELIPS) de forma a preparar futuras missões tripuladas à Lua e a Marte.

Durante a experiência, a tripulação ficará hermeticamente isolada num espaço confinado com consumos limitados e comunicações exclusivamente via Internet, interrompida ocasionalmente e com um atraso de 20 minutos, tal como numa missão real a Marte, por causa da distância entre a nave e a Terra.

Fato espacial marciano Orlan em teste
Fato espacial marciano Orlan em teste

A tripulação será monitorizada e os seus parâmetros psicológicos, médicos e físicos serão medidos e gravados durante toda a missão. Durante as operações à ‘superfície’ após 250 dias, a tripulação será dividida ao meio, três irão para o simulador da superfície marciana e os outros três permanecerão na ‘nave’.

A tripulação terá toda a comida necessária desde o início da experiência pelo que terão de controlar o consumo dos alimentos. A dieta será semelhante à da tripulação da ISS. As tarefas executadas serão comparáveis às dos astronautas da ISS, mas por um período mais longo de tempo: manutenção, experiências científicas e exercício físico. Terão sete dias de trabalho, seguidos de dois dias de folga, excepto quando forem simuladas situações de emergência.

Esta missão pode não trazer a mesma emoção que um verdadeiro voo espacial, mas será igualmente dura. Os primeiros humanos a andar sobre Marte irão seguramente lembrar-se destes pioneiros.

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