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Extensão do derrame em meados de Maio
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Stocks de atum fortemente atingidos pelo derrame do Golfo

19/10/2010 997 views 0 likes
ESA / Space in Member States / Portugal

O derrame de petróleo no Golfo do México não podia ter ocorrido em pior altura para o atum-rabilho: tinham chegado à região para a desova. Os satélites estão agora a ajudar a avaliar os danos do desastre no habitat do peixe.

O gigante do Atlântico, um dos maiores peixes, capaz de atingir o tamanho de um Volkswagen Beetle, vem para o Atlântico, todos os anos, de Janeiro a Junho. O pico da época de reprodução no Golfo é Abril e Maio – precisamente quando 10 milhões de litros de petróleo por dia estavam a ser derramados nos mares, na sequência da explosão da torre petrolífera Deepwater Horizon, a 20 de Abril.

O peixe, de grande valor comercial, reproduz-se em águas superficiais, com as fêmeas a libertarem os ovos e os machos a segui-los para os fertilizarem. A presença de petróleo na superfície pode danificar os ovos, as larvas e até os adultos. Com os stocks de atum no Atlântico ocidental a decrescer a uma taxa de 82% nos últimos 30 anos é imperativo que a espécie possa reproduzir-se sem interferências.

Na região do Golfo há duas regiões principais de reprodução: uma a noroeste e uma a nordeste, o que coincide com a região do derrame.

Num esforço de salvaguardar as zonas de desova, a Ocean Foundation – uma organização sem fins lucrativos envolvida na protecção dos oceanos e das suas espécies – precisou de saber quais os habitats da região nordeste que tinham sido mais afectados.

Impacto do derrame nas regiões de desova
Impacto do derrame nas regiões de desova

Isto exigiu conhecer com exactidão a extensão do derrame e as regiões que ofereciam condições favoráveis à desova.

Dados de radar do satélite da ESA Envisat e outros europeus e internacionais foram usados para produzir mapas semanais com a localização, forma e tamanho da mancha de petróleo.

Para simular os habitats de desova e desenvolvimento da larva, os cientistas usaram atuns marcados electronicamente e um modelo oceânico baseado em temperaturas oceânicas medidas, alturas da superfície do mar medidas com altímetros no radar do Envisat e do satélite Jason, da NASA, e ainda informação sobre a cor da água obtida a partir do MERIS, no Envisat, e do MODIS, no Aqua da NASA. A cor da água pode dar uma indicação acerca da presença de plâncton para o atum se alimentar.

Sobrepondo os mapas com a extensão do derrame e índex de desova do habitat foi possível ver onde e com que frequência o derrame e os habitats se sobrepuseram entre 20 de Abril e 29 de Agosto.

Logo a seguir à fecundação, a larva começa a procurar comida, junto à superfície. Isto significa que a presença de petróleo aí é potencialmente fatal para organismos tão pequenos.

Uma vez que a área do derrame e os habitats preferenciais para a desova coincidiram no final da época reprodutiva, os investigadores contabilizaram o efeito do derrame, concluindo que o desastre foi responsável por uma diminuição de 20% no número de novos atuns.

Pelas observações de satélite, conclui-se que, felizmente, os locais de reprodução no oeste não foram, aparentemente, afectados pela poluição.

Linha de costa afectada
Linha de costa afectada

«Esta análise vai ajudar-nos a aumentar o nível de conhecimento do impacto destes eventos, guiando-nos no desenvolvimento e recomendação de políticas», disse David Guggenheim, da Ocean Foundation.

«Além disso, esta análise e a sua abordagem representam uma ferramenta de nova geração que pode ajudar os investigadores e decisores no caso de enfrentarmos um desastre semelhante no futuro.»

Quando o poço Deepwater Horizon foi finalmente selado a 15 de Julho, tinham sido derramados 750 milhões de litros de crude no Golfo.

Os satélites de observação da Terra tiveram um papel muito importante na compreensão da tragédia. Alguns dias após a explosão, os satélites começaram a monitorizar a situação e a fornecer dados quase em tempo real às autoridades americanas envolvidas nos esforços de limpeza.

Agora os satélites estão a ajudar os cientistas a responder às questões mais decisivas relativamente às consequências do derrame. Mapas baseados em dados da ESA também documentam os efeitos de derrame nos habitats costeiros e nos locais de reprodução das tartarugas.

A protecção dos habitats naturais está esta semana em destaque na COP 10 – Convenção para a Diversidade Biológica das Nações Unidas – que está a decorrer em Nagoya, no Japão. A ESA está a participar na COP10 com um expositor e um evento lateral.

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