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Sopro do dragão: o ERS-2 e o Envisat revelam o impacto do crescimento económico na qualidade do ar da China

06/09/2005 324 views 0 likes
ESA / Space in Member States / Portugal

O espectacular crescimento económico da China ao longo da última década trouxe muitos benefícios - e alguns desafios. A cartografia atmosférica global da poluição de dióxido de azoto efectuada pelo GOMR do ERS e pelo SCIAMACHY do Envisat revelou que as maiores concentrações de NO2 pairam sobre Beijing e o nordeste da China, como relata a revista Nature desta semana.

Como parte do Programa Dragão da ESA, investigadores europeus e chineses estão a utilizar os resultados enviados pelo Instrumento de Monitorização Global do Ozono (GOME) do ERS-2 e pelo Espectrómetro de Absorção de Imagens Digitalizadas para Cartografia Atmosférica (SCIAMACHY) do Envisat para monitorar e efectuar previsões sobre a qualidade do ar chinês.

Neste contexto, investigadores da Universidade de Bremen, do Max-Planck Institute of Meteorology de Hamburgo e do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) francês têm-se dedicado ao estudo da detecção da variabilidade do dióxido de azoto a partir do espaço e à modelação do seu comportamento global.

A equipa publicou um artigo na edição de 1 de Setembro de 2005 da revista científica Nature sobre as mudanças globais do NO2 observadas a partir do espaço na última década, com destaque para as mudanças dramáticas sobre a China.

O dióxido de azoto (NO2) está associado ao óxido de azoto (NO) na atmosfera e o conjunto dos dois é denominado NOX. Este é libertado para a troposfera pelas centrais eléctricas, indústria pesada e transportes rodoviários, bem como pela queima de biomassa, relâmpagos na atmosfera e actividade microbiana no solo. A emissão de óxidos de azoto aumentou cerca de seis vezes desde a era pré-industrial e o NOx existente nas cidades é mais de cem vezes maior do que na camada das antigas e distantes fronteiras marítimas.

Sabe-se que a exposição a grandes quantidades de dióxido de azoto provoca danos nos pulmões e problemas respiratórios, embora pouco se saiba sobre as consequências de uma exposição prolongada a quantidades atmosféricas elevadas. A presença deste gás contribui significativamente para a produção do ozono troposférico que, na troposfera (a camada inferior da atmosfera, que se estende numa altura de 8 a 16 quilómetros), é por si só um poluente tóxico prejudicial, sendo um dos principais ingredientes do nevoeiro fotoquímico.

"Enquanto que as concentrações da coluna vertical do dióxido de azoto sobre a Europa central e oriental e as zonas da costa Este dos Estados Unidos se têm mantido estáveis ou apresentando mesmo uma ligeira diminuição, existe um aumento claro e significativo sobre a China," explicou John Burrows, do Instituto de Física Ambiental da Universidade de Bremen, o investigador principal do SCIAMACHY.

"Antes do lançamento do SCIAMACHY, obtínhamos os dados do NO2 através do instrumento que o antecedeu, o GOME, da missão ERS-2 da ESA. Embora o GOME possuísse uma resolução inferior, o artigo mostra que as detecções de NO2 da China obtidas pelos dois instrumentos são praticamente coincidentes.

"O que a combinação de dados mostra é que os níveis de dióxido de azoto subiram cerca de 50% desde 1996, e este aumento deverá continuar."

Os sensores baseados no espaço são a única forma de efectuar uma monitorização global e regional efectiva da atmosfera. Enquanto que o GOME demonstrou a primeira sensibilidade dos satélites relativamente ao dióxido de azoto troposférico, o SCIAMACHY possui um desempenho superior, com uma resolução espacial de 60 x 30 quilómetros em comparação com os 320 x 40 km do seu antecessor.

O SCIAMACHY observa também a atmosfera de duas formas diferentes - para baixo ou 'sondagem do nadir', bem como 'sondagem do limbo' ao longo da direcção de voo - e com uma gama espectral maior do que a do seu antecessor.

O aumento dos níveis de dióxido de azoto verificados é uma consequência infeliz do sucesso económico. O boom industrial tornou a China no maior consumidor de cobre, alumínio e cimento do mundo e no segundo maior importador de petróleo. A compra de viatura própria no país duplicou em poucos anos.

"A concentração de dióxido de azoto na China varia de acordo com a estação," acrescentou Burrows. "É maior no Inverno, em resultado dos diversos padrões de emissões e condições meteorológicas. Por exemplo, queima-se mais combustível para aquecimento e o NO2 persiste mais tempo na atmosfera nas épocas do ano com menos sol - permanecendo cerca de um dia em vez de algumas horas, como acontece no Verão.

"A meteorologia desempenha também um papel importante. Observa-se um pico antes do Natal: isto não se deve à súbita redução da actividade industrial, do aquecimento doméstico ou dos transportes após o período das festas, mas sim à presença de um fluxo de ar em direcção a Este, que anteriormente pairava sobre a Ásia. Trata-se do mesmo tipo de fenómeno que transporta a poeira do Deserto de Gobi através da costa ocidental dos Estados Unidos."

Estão disponíveis informações mais detalhadas em Inglês em:
http://www.esa.int/esaCP/SEMEE6A5QCE_index_0.html

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